Quem se espanta com a enxurrada de denúncias que vem assolando os políticos em Brasília esquece de um pequeno detalhe, comum em qualquer bom filme policial: a honra entre ladrões.
Foi justamente pelo rompimento desse acordo “ético” entre grupos criminosos que as notícias das mamatas, falcatruas e artimanhas realizadas por nossos “nobres” representantes sempre em busca do vil metal e do enriquecimento fácil e ilícito começaram a chegar aos ouvidos atentos da imprensa e do povo com profusão alarmante.
Que o Congresso era o centro de corrupção nacional ninguém tinha a menor dúvida. Os escândalos que se sucederam ao longo dos anos pós-abertura (e olha que não foram poucos) formaram, em muitos jovens brasileiros (e em até alguns “da antiga”), a firme convicção que a ditadura militar deveria voltar. Um equívoco. Pois, coisas assim, também aconteciam sob o manto verde-oliva que governava o país.
O que acontecia antes, na realidade, era que havia uma certa vergonha dos políticos em perder a pose de respeitáveis. Assim, abafava-se qualquer menção as falcatruas e armações da classe. Isso sem falar é claro, na censura a qualquer notícia do gênero que não fosse de interesse dos generais.
Mas, o que acontece hoje, nada mais é do que a vingança dos que foram mais prejudicados pela recente onda de denúncias que se alastrou pelo país e começa a mudar (ainda timidamente) a forma como “a coisa pública” é vista pelo povo. Quem não se lembra das denúncias, no início deste ano, sobre a misteriosa gratificação paga aos funcionários do Congresso sob a forma de horas-extras em pleno recesso?
Foi justamente essa denúncia, que causou alvoroço, revolta popular e a devolução dos valores (pagos, segundo os nobres congressistas, como se fosse “uma gratificação” pelos serviços prestados ao longo do ano). Esses valores, agora se chega à conclusão óbvia, nada mais eram do que um “cala boca” (quase um acerto entre ladrões) onde, os que roubam muito, dividem um pouco do butim com seus auxiliares menos qualificados e os que não desejaram “sujar as mãos” abertamente.
Basta que se analisem os fatos que se sucederam à exigência da devolução desses valores: De lá para cá; todas as falcatruas (algumas com décadas de existência) foram expostas quase que em seqüência de uma forma nunca antes vista. Numa clara vingança do “primo pobre” sobre o “primo rico”. Como toda quadrilha criminosa de grande porte, os bandidos não podem cometer crimes sem que haja colaboradores externos que “levem algum” para facilitar os movimentos da quadrilha, olhar para o lado, ou simplesmente calarem-se diante de algo ilícito.
Infelizmente, apesar da quebra de confiança entre os corruptos ser um fato muito bom para nós; essas denúncias denotam a fraqueza de nossas instituições e a inacreditável penetração da corrupção nesses organismos de nossa nação.
O cidadão comum, como eu ou você, fica completamente a mercê de um Estado paralelo que vive de sugar as riquezas da nação e de negar, ao seu próprio povo, oportunidades e recursos que poderiam significar redenção e evolução para uma qualidade de vida melhor para todos.
Mais uma vez, a avalanche de denúncias e o ganho purificador que ela acabará causando no Legislativo e nas práticas políticas brasileiras, tornam evidente a necessidade de uma população atenta, vigilante e atuante. A pressão popular por mudanças e pelo fim da visão corrente de que o dinheiro público não tem dono, terá de ser exercida com cada vez maior ênfase na moralidade e na ética.
Mudar o pensamento do eleitorado brasileiro e a ideia distorcida de que política é coisa de corrupto; será o primeiro passo para nos libertarmos desse círculo maldito de pobreza e desigualdade social. Muito mais que ser comunista, socialista, capitalista ou bolivariano (como preferem alguns agora) o Brasil deve ser justo e dar oportunidades para todos os cidadãos.
E isso, aluno, só virá com a mudança de pensamento e com a vontade de mudar de cada um de nós. “Uma nação se faz com homens e livros”, já dizia Monteiro Lobato. Mas, no Brasil, os livros estão em segundo plano para a maioria da população. E, homens? Bem… essa eu deixo para você responder.
Pense nisso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário